Muitos se escandalizam quando afirmamos que não há pecado. Porém, não há muito que estranhar se analisarmos esta afirmação do Apóstolo Paulo: “Porque a lei suscita a ira; mas onde não há lei, também não há transgressão” (Romanos 4:15).
Em outras palavras, se não há lei, não há pecado. Falando ainda mais claramente, Paulo está afirmando que para haver pecado é necessário que haja lei. Agora note estas duas declarações de Paulo: “Porque Cristo é o fim da lei, para justificar todo aquele que crê” (Romanos 10:4); “Porque o pecado não terá domínio sobre vós; pois não estais debaixo da lei, mas debaixo da graça” (Romanos 6:14). Não se pode transgredir, se não há o que ser transgredido. Não obstante o fato de nem tudo ser conveniente para nós, a Palavra ensina que todas as coisas nos são lícitas (1ª Coríntios 6:12). E por que tudo é lícito para nós? Porque não há lei. Os ministérios que pregam a genuína Graça dizem abertamente que não há pecado porque nós cremos piamente que, sendo o fim da lei, Cristo aniquilou o pecado ao morrer na cruz (Hebreus 9:26). Ou seja, o Senhor tornou o pecado obsoleto, abolido, sem eficácia, morto.
Porém, se Paulo ensina claramente que não há pecado (pois não estamos debaixo da lei), por que este mesmo Apóstolo de Cristo insiste em chamar certas obras más de “pecado”? Apesar de parecer um inexplicável contra-senso de Paulo, chamar uma obra má de “pecado” não chega a ser uma incoerência. Para entendermos por que o mesmo homem que revelou o fim do pecado usa este termo para falar de obras más, vamos começar dando uma breve conferida no significado do termo no texto original: “Pecado” vem do original “hamartia”, que significa “errar”; “perder a mira, o alvo”; “se confundir”; “se desviar”; “aquilo que é feito de errado”. Além de Paulo ter vivido no tempo em que o pecado estava em vigor – antes da cruz – e que, por isso, já tinha o costume de atribuir o nome “pecado” às obras más, ele usava a palavra “hamartia” devido ao seu significado literal. Por exemplo, se alguém hoje em dia comete um adultério, do ponto de vista neotestamentário ele não está cometendo um pecado, pois não está mais debaixo da lei (lembre-se, para haver pecado é necessário que haja lei), porém o adultério é uma obra da carne e, portanto, vem a ser fruto de uma obra do mal que há na carne (Romanos 7:18 e 21).
Logo, cometer adultério não é pecado, mas nem por isso adulterar passou a ser uma boa obra. Adulterar é um erro, é uma obra maligna, é errar o alvo, daí Paulo chamar este tipo de obra de “hamartia” (pecado). Então, o fato de Paulo falar em “pecado” não significa que o pecado ainda existe como havia antes da cruz. Também não significa que Paulo tenha se enganado ao ensinar que não há transgressão. Não existe mais pecado, mas existem obras más. E estas obras, se cometidas, trazem péssimas consequências para nós nesta vida, pois nós colheremos da carne a corrupção (Gálatas 6:8). Isto, sem falar do mau testemunho que estas obras trazem para o Evangelho. Sinceramente, eu creio que uma verdadeira ovelha de Cristo, por mais que tenha uma debilidade carnal, jamais desejará manchar o Evangelho através de obras más. A batalha continua. Devemos estar atentos às obras do velho homem (carne) e lutar bravamente contra elas para não colhermos consequências e não escandalizarmos nossa fé. Porém, devemos descansar em relação a Deus, pois Cristo nos fez mortos ao pecado (Romanos 6:11) e o mesmo não pode mais ter domínio sobre nós (Romanos 6:14).